domingo, 13 de fevereiro de 2011

Redescobrindo o Sexo

Por Débora Centoamore
Fonte: Revista Vitta, ed. 10.

 De nome complexo, o desejo sexual hipoativo é a disfunção sexual mais conhecida entre as brasileiras. Uma em cada dez mulheres sofrem com essa diminuição ou ausência de interesse sexual, que se caracteriza por ser persistente por mais de 6 meses. De acordo com o sexólogo Gerson Lopes, os motivos que levam à redução do desejo são
muitos. "No consultório, eu já vi até 21 causas psicológicas diferentes. Entre as mais comuns estão problemas de competitividade entre os pares, indiferença e descoberta de infidelidade", cita.
Apesar do que se acredita, a menopausa não é um gatilho para o DSH. "A queda na libido, assim como sudorese e calores, causados por uma deficiência hormonal, são sintomas de menopausa, mas não é o caso", completa o especialista. Outras situações de queda de desejo que podem ser confundidas com DSH são o baixo nível de estrógeno e o hipotireoidismo. Pesquisas recentes mostram ainda que o desequilíbrio de neurotransmissores, como a dopamina, a noradrenalina e serotonina, pode causar um aumento de substâncias inibitórias ou uma diminuição de substâncias excitatórias, resultando na diminuição do desejo.
A psiquiatra e professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) Carmita Abdo explica que há dois tipos de DSH: primário e secundário. Na primeira opção, segundo a médica, "identifica-se que, desde o início da vida sexual, a mulher nunca teve o desejo considerado satisfatório". Em outros casos, a mulher tinha sua sexualidade saudável e algo mudou essa condição. "Elas não conseguem perceber o momento em que desenvolveram essa perda da libido. A maioria tenta argumentar em razão da rotina e cansaço. Porém, essa situação atinge cerca de 10% das mulheres, as outras também tem um dia a dia agitado, mas nem por isso perdem o interesse sexual. Por isso, não considero esses motivos convincentes", ressalta.
E agora?
Procurar ajuda profissional é a melhor solução. Para o sexólogo, cada vez mais mulheres buscam orientações ao perceberem que têm algum problema. "Elas não só conversam com o médico sobre as dificuldades como também sobre os problemas dos parceiros", acrescenta Gerson. Mas essa é uma atitude muito recente. As gerações anteriores simplesmente ignoravam o problema - e por consequência tinham uma vida sexual insatisfatória. A psiquiatra Carmita exemplifica essa situação falando sobre o Projeto Sexualidade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas(SP), do qual ela é fundadora e coordenadora:
"No início dos anos 1990, no grupo de estudos sobre sexualidade, a procura de pacientes era de sete homens para cada mulher. Hoje é de dois homens para cada mulher, e essa diferença não acontece por que a procura masculina diminuiu, mas por que a feminina aumentou. Elas entendiam o sexo como reprodução, apenas. Hoje estão mais interessadas no seu prazer."
Cuide-se
Diagnosticado o problema, é hora de combatê-lo. O tratamento é feito com psicoterapia, cujos resultados não são imediatos, e às vezes pode ser complementada com o uso de antidepressivos dopaminérgicos, que, ao contrário dos outros medicamentos da categoria, não diminuem o desejo. Existe também a terapia sexual, que é focada no desempenho. Durante as sessões, que ocorrem durante 4 ou 5 meses em média, são levantados os elementos que estariam causando a dificuldade no interesse sexual, como bloqueios e limitações. "É uma reestruturação da sexualidade feita de forma bastante incisiva e direta.
Às vezes, o problema está em mitos, preconceitos e tabus em relação ao sexo que a mulher tem e, uma vez superados, rapidamente começa a ser mostrada outra disponibilidade em relação ao sexo", ensina Carmita.